A Ciência e a Era das Fake News: o saber científico está cada vez mais restrito?

28 de SETEMBRO DE 2020 POR MATHEUS MACENA

 

Recentemente eu estava participando de uma discussão em um grupo de estudos online. Estávamos debatendo o livro “Capitães da Areia”, de Jorge Amado. A obra narra a história de um grupo de menores abandonados, que crescem nas ruas da cidade de Salvador na década de 30, cometendo furtos para sobreviver. A narrativa é cheia de sensibilidade quanto aos conceitos de “liberdade” e “justiça”, e a discussão do grupo foi muito voltada para temas como “redução da maioridade penal”, “políticas de ressocialização”, “trabalho infantil”, etc.

 

 

Pois bem, não imagino qual seja sua opinião sobre temas acima. Mas estamos falando de políticas públicas, então não é a opinião de x ou y que deve prevalecer, mas devemos ouvir o que a ciência tem a dizer. Sim, ciência não é só produção de vacina, remédio ou aparelhos eletrônicos. Existem cientistas no Direito, na Psicologia, na Economia, e em todos os campos do conhecimento. E esses cientistas há muito tempo vêm estudando e reafirmando a importância de políticas de ressocialização bem estruturadas e os perigos que surgem com o encarceramento de pessoas cada vez mais jovens ou com a naturalização do trabalho infantil.

 

Contudo, os problemas agravados pela inércia do Estado geram revolta popular e as pessoas buscam soluções fáceis, objetivas e pragmáticas, que a longo prazo parecem ineficazes (de acordo com estudos científicos). Mas quem é das ciências humanas e sociais, assim como eu, sabe da dificuldade em competir com o senso comum no cotidiano, ainda mais agora na Era Digital, em que as pessoas precisam ter opiniões para tudo. Aliás, acho ótimo que as pessoas se interessem por diversos temas, isso enriquece os debates e enfraquece as hierarquias opressoras, mas o que sustenta esse debate?

 

A polarização atenuada pela Política e pelas redes sociais (indicação clichê: documentário “O Dilema das Redes” na Netflix) se estendeu para algo que nunca imaginei: VACINA! Sim, as pessoas passaram o ano esperando por uma vacina para a COVID-19 e agora existe um movimento (cerca de 20% da população) que não pretende tomar nenhuma vacina, colocando em risco a coletividade. Assim como houve resistência em ouvir os cientistas da saúde durante toda a pandemia, que apontavam a necessidade de distanciamento social e uso de máscaras, por exemplo.

 

Fonte: tenor

 

Se antes as ciências humanas não conseguiam chegar à população e ficava muito restrita ao mundo acadêmico, me parece que agora o caminho é ainda mais distante. Se convencer as pessoas da importância de prevenir doenças, cuidar do coletivo ou desmentir que “a vacina chinesa possui um chip rastreador” está sendo uma missão desgastante, mais árduo ainda é dialogar sobre políticas públicas ou fazer problematizações da estrutura social. A Academia e a Ciência precisam urgentemente rever formas de chegar às gentes na “Era da Desinformação”.